Dizem
que a jornada começa com o primeiro passo.
Mas há muitas jornadas dentro uma única jornada e mesmo, dentro de um
único passo. É como se a jornada fosse dividida em quantas, assim como na teoria da mecânica quântica e relatividade
geral entrelaçadas. Uma jornada tem quantas
de outras jornadas e essas têm quantas
de lugares e esses, quantas de
experiência que tem, por sua natureza quântica, quantas de sensações. Mas dá para reduzir ainda mais essa jornada, chegando
a pontos de escala infinita; um sorriso, um olhar, um aroma, um piscar de
olhos, minutos, segundos. Assim, nos damos conta de que uma viagem é feita de
incalculáveis infinitos momentos, e momentos são feitos de Tempo. Assim,
podemos dizer que duas semanas viajando equivalem a duas semanas trabalhando.
São a mesma escala de Tempo. Mas, porque me lembro para sempre de duas semanas
de viagem e me esqueço com facilidade de qualquer duas semanas trabalhando?
Pensando sobre isso me dou conta que essa questão não está relacionada
diretamente a questão de trabalho ou viagem, mas sim da questão imperceptível,
mas existente, do Tempo. O Tempo existe desde o inicio do universo, acredita-se
que ele nasceu com o universo, ele está relacionado com a expansão do universo
e com a entropia de todas as coisas, que permite o futuro, mas, não o passado. O
tempo que já passou não volta mais porque não há energia que consiga reverter o
processo entrópico do universo. Podemos guardar e armazenar as informações do
passado, mas não desatar o nó quântico e entrelaçado dos processos de
desfragmentação e rearranjo da matéria e energia. Ninguém separa o café do
leite como era antes de misturado. Depois de misturado pode ser separado com
muita energia e tempo, mas haverá perdas e modificações da matéria nesse
processo. Nunca será igual porque o Tempo passou. O tempo se arranja em uma
teia junto com a matéria em redes de tamanho muito pequeno denominado Plank.
Assim não há tempo sem matéria e não há matéria sem tempo. A matéria interfere
no comportamento do tempo retardando-o ou acelerando-o. Ande muito rápido,
velocidades muito altas, e você envelhecerá menos, suba uma montanha,
afastando-se da ação da gravidade e você envelhecerá mais. Claro que você só
vai sentir isso se conseguir a proeza de viver milhões de anos. Mas os satélites
já precisam de ajuste de tempo para funcionar com o mesmo tempo da terra.
Enfim, o tempo é uma rede que está amarrada a nosso corpo, alma, a tudo que nos
cerca; e ele está passando. Por isso entendi que o porquê de se lembrar de duas
semanas de viagem e não de duas semanas de trabalho está relacionado ao Tempo.
O fato é que não percebermos o tempo passando dia-a-dia, hora a hora, segundo a
segundo; só o percebemos em estados quânticos; dois anos, dez anos, quando
olhamos as fotos da época da faculdade e vemos que não temos mais os mesmos
cabelos e nossa pele está diferente. Não conseguimos ver essa passagem clara do
tempo em nossos rostos comparando as fotos postadas no Facebook há duas
semanas, só em intervalos maiores. E isso é a chave para tudo, pois só nos
damos conta de que o tempo passou depois de muito tempo. Então o fato de se
lembrar para sempre de duas semanas de viagem é porque vemos o tempo passar
diante dos nossos olhos, porque vivemos o Tempo e não só passamos pelo Tempo; encuramos os quantas de percepção do Tempo. Essa
experiência de viver o tempo é marcante, ela fica profundamente gravada em
nossa consciência e memória. Essa experiência nos modifica, desperta e elucida
questões existenciais e morais; acabamos por evoluir a cada vez que nos
conectamos ao tempo com essa intensidade. Estando conectado ao tempo, vê-lo
passar, estamos aproveitando melhor o curto espaço de tempo que temos aqui. Do
contrário, apenas passando pelo Tempo, temos uma vida vazia, onde as menores
escalas de comprimento de tempo interagem na materia provocando e entropia
natural para a escala seguinte no futuro e nós ficamos nesse breve intervalo,
desconectado, inconsciente do tempo; e a soma desse minúsculo intervalo cria
segundos, horas, dias, meses, anos e quando o salto quântico de consciência vem
depois de anos, nos damos conta de que nada fizemos senão sermos carregados
pelo destino. Muitas vezes essa percepção da importância de convivermos com o
tempo de maneira consciente chega a tempo de efetuarmos mudanças em nossas
vidas. Porém, para grande parte das pessoas a consciência chega tarde demais,
ou não encontra a disposição necessária para promover as mudanças. Até porque
viver conectado com o tempo é viver intensamente; amando, raciocinando,
questionando, atentando, pensando, estudando, inovando, sofrendo e crescendo; e
isso requer um grande esforço. Para muitos, é um esforço impensável, é muito
mais fácil passar pelo tempo. Não posso criticar esse tipo de comportamento,
mas tenho uma sede de evoluir de viver e por isso me rebelo a essa idéia e
constantemente busco saídas a uma vida forjada e incentivada a só passar pela
vida. Viajar é assim uma das rebeldias maiores. Se desprender do lugar, voar e
andar por muitos lugares diferentes, admirar o novo e enfim vivenciar cada
quanta de tempo e experiência é o que por muitas vezes me faz estar vivo
novamente, e assim espero ir, viajando com o Tempo até meu derradeiro destino;
onde vou dar um Tempo!